Ando escarafunchando atrás de filmes com zóio puxado e, como em todo garimpo, encontra-se pouco ouro e MUITOS pedregulhos. Na minha peneira selecionei 'Grotesque' e 'The Chaser' - respectivamente uma bomba e um achado.
"Porra, em que bosta de filme fui amarrar meu burro!"
Encontrei o primeiro em uma dessas listas infames estilo '100 piores filmes de todos os tempos'. Assisti o trailer, parecia interessante. PARECIA. Logo descobri que não passava de propaganda enganosa (preciso dizer que fizeram um bom trabalho na edição da chamada, engrupiu direitinho). O filme vende a ideia de ser extremamente violento, doentio, brutal... extremo, de fato. PÂNDEGO ao extremo (já passei por isso com o igualmente risível 'A Serbian Film'). Filme 'extremo' oriental pra americano ver. A primeira metade do filme até consegue criar alguma tensão - a expectativa é de 'tá morno mas logo o negócio esquenta'. Depois de algumas cenas razoavelmente grotescas (e nada convincentes) do psicopata masturbando suas vítimas (o que são aqueles ruídos de chupeta e o esguicho de ketchup no caso da moça, produção??), cortando mãos e dedos (que mais parecem gelatina) com serra elétrica, martelando pregos em testículos e decepando pênis (zzzz), Grotesque afinal diz a que veio: pastelão. A vergonha alheia é tamanha que chega a constranger o telespectador. Cenas inacreditavelmente cômicas; impossível discernir se o riso é motivado por comédia ou desgosto (ou ambos). Em certo momento tudo vira um dramalhão mexicano (oi, não era oriental?) sobre o 'psicopata' descobrindo que herdou o odor fétido de sua mãe quenga e por isso todas as mulheres sempre o rejeitaram (oi??!). O 'ápice' do ridículo se dá com a decapitação da garota, sendo que a cabeça dá uma voadora (?!?) e morde o pescoço do algoz. sim, você leu certo: MORDE. Com direito a voadora de kung-fu. Sem mais.
"Socorro, alguém desliga a pilha desse cara?"
Já o achado atende pelo nome de 'The Chaser'. O protagonista, ex-investigador que vende seu distintivo pra se tornar michê, tem ares de Charles Bronson coreano com quê de ironia - inspira simpatia, apesar do jeitão truculento. É responsável pelo ótimo resultado do filme, embora a edição, trilha, elenco e ademais sejam de ótima qualidade - é um thriller bastante competente, tanto em enredo quanto detalhes técnicos. Após várias de suas garotas desaparecerem misteriosamente, Joong-ho decide investigar o caso. Ao enviar mais uma, percebe que o número do cliente era o mesmo que havia requisitado as moças desparecidas anteriormente. Desconfiado de que talvez estivessem sequestrando e vendendo suas funcionárias, começa a caçar o dono do telefone (daí o título do filme) - só não imaginava que, na verdade, estivesse no encalço de um assassino. O ritmo acelerado do filme mantém o interesse e, apesar de as cenas não contarem com 'violência extrema', conseguem causar incômodo e tensão. Não costumo sentir 'peninha' das vítimas, talvez porque a maioria dos assassinos seja pouco convincente - o ator que interpreta 'a caça' é convincente em sua perversidade, no entanto. Destaque para o peculiar humor negro oriental - discreto, hiperbólico e acido ao mesmo tempo ('Ichi The killer' é um exemplo clássico). Apesar de agir como ogro e causar certo desprezo inicial por explorar mulheres, Joong-ho vai se revelando um 'Shrek' e mostra-se genuinamente obstinado em salvar a vida da última garota raptada - para isso não mede esforços (nem sopapos). É contraditório como a maioria das pessoas, o que dá ao personagem mais veracidade. As cenas divididas com seu 'braço direito' atrapalhado e a mordaz filhinha da vítima (o durão se mostra uma manteiga derretida, resgata a garota quase-órfã sozinha em casa e leva-a a tiracolo durante sua 'caçada') garantem cenas hilárias. Alguns dizem que 'The Chaser' lembra o clássico coreano 'Oldboy'. Embora haja similaridades entre os protagonistas e a própria influência coreana, não achei tão parecido visto que os filmes abrangem temáticas diferentes (o protagonista de Oldboy tem carga pscicológica mais pesada, e o filme gira em torno de vingança e incesto - sim, enquanto o cinema americano engatinha na fase de desmitificação do homossexualismo, o coreano se mostra bem mais, digamos, avançado).